Retomada de produção de urânio gera repúdio de entidades

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O retorno da produção de urânio no Brasil, que aconteceu em Caetité, na Bahia, tem gerado inúmeras manifestações de repúdio de entidades trabalhistas e ambientalistas.

A retomada aconteceu oficialmente em celebração oficial do Governo Federal nesta terça-feira (1º), na Unidade das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), no interior baiano.

Foram colocados como motivos de repúdio da volta das atividades os casos de câncer de quem foi exposto por radiação e os danos ao meio ambiente, além de erros na engenharia que exigiram a interrupção da mineração por seis anos. Veja a nota na íntegra e os nomes das entidades que mostraram repúdio ao retorno da produção de urânio.

Reinício de mineração de urânio ignora sofrimento de vítimas de atividades atômicas

Em meio ao preocupante avanço da crise pandêmica, que já matou mais de 173 mil brasileiros e infectou 6,3 milhões de pessoas, esta manhã (01/12/20) em Caetité, na Bahia, acontece uma festa para saudar a retomada da mineração de urânio, exigido pela perigosa tecnologia das usinas nucleares, ou “chaleiras radioativas”, que estão sendo desativadas por vários países do mundo.

A indústria nuclear ignora os prejuízos socioambientais e o sofrimento de populações do semiárido baiano. Erros de engenharia na cava da jazida Cachoeira, primeira lavra a céu aberto, exigiram a interrupção da mineração há 6 anos. A exploração de um veio subterrâneo na mesma jazida mostrou-se inviável. Agora começa no Engenho, a exploração da segunda jazida a céu aberto. A comemoração prevê até concurso entre os trabalhadores da Indústrias Nucleares do Brasil (INB) que quiserem tirar foto ao lado do ministro das Minas e Energia.

O delírio nucleopata quer gastar mais de R$ 15 bilhões para concluir a obra da terceira “chaleira” em Angra dos Reis (Angra 3), construir outras 6 novas na beira do Rio São Francisco e também iniciar a mineração de urânio em Santa Quitéria, no Ceará. Não se sabe ainda de onde virá esse dinheiro. Mas o que todos sabem é que 20 anos depois de iniciar a mineração na Bahia, a INB nunca apresentou publicamente um relatório de encerramento da exploração da primeira mina de Caetité, os prejuízos que teve e os estragos deixados na área, poluindo águas superficiais e subterrâneas, contaminando o solo, o ar, a flora e a fauna, provocando câncer e outras doenças na população.

Além de todas as outras mentiras que contam, a tecnologia das “chaleiras radioativas” não é segura, nem barata e muito menos limpa. O “lixo” radioativo que sai delas, como combustível usado, precisa de milhares de anos para se desfazer. Só o plutônio, que está nesse lixo, precisa de 24.100 anos para que a metade da sua massa deixe de ser radioativa.

Há muitos estudos sobre os efeitos danosos da mineração de urânio na Bahia:

2007 – Universidade Estadual de Santa Cruz (Ilhéus/Ba) mostrou que a incorporação do urânio em dentes de moradores de Caetité é 100 vezes maior que a média mundial;
2008 – Relatório do Greenpeace provou contaminação da água no entorno da mina, comprovada depois pelo então Instituto de Águas do Governo da Bahia;
2013 – Pesquisa da Fiocruz indicou 21 casos de câncer (17 mortos e 4 pessoas em tratamento) em povoados próximos à mina da INB, e 113 casos suspeitos de nexo com a atividade da mineração;
2015 – Oncologista Marcelo Cruz, do Hospital São José (SP) registrou índice de câncer em pulmão causado pelo gás radônio – liberado na manipulação do urânio – 19 vezes mais alto em Caetité que no resto do estado da Bahia, e dezenas de vezes mais alto que o limite aceitável pela ONU;
2015 – Instituto Multidisciplinar em Saúde da Universidade Federal da Bahia (Vitória da Conquista), encontrou presença de urânio em amostras de leite materno, coletadas em 131 mulheres, duas a 300 vezes acima do limite das 30 miligramas aceitável pela OMS;
2018 – Laboratório de Pesquisa e Informação Independente sobre Radioatividade, da França, indicou nível de urânio mais elevado que 15% (taxa de referência) em amostras de cabelo de 7 trabalhadores da ativa e um ex-trabalhador, sendo quase 70 vezes maior em um deles;
2019 – Pesquisadores da Universidade Federal da Bahia avaliaram o impacto da mineração sobre o ambiente, a saúde de trabalhadores e as populações do entorno da mina. Afirmam que a exposição à radiação ionizante na região não é causada só pela radiação natural, como a INB tenta fazer crer e que o descontrole nas atividades atômicas leva para fora dos limites da área da empresa o risco de exposição aos produtos da cadeia de decaimento do minério (radônio, césio, polônio, etc), elementos mais perigosos que o próprio urânio. A situação encontrada foi tão grave que recomendaram a imediata interdição da atividade atômica até ser garantido o controle absoluto do risco radioativo.
Por conhecerem muito bem a tragédia que envolve o completo ciclo de produção da energia nuclear, Caetité, a Bahia e o Brasil repudiam e denunciam a insanidade com que o governo brasileiro tenta ampliar o uso da tecnologia das “chaleiras radioativas” em nossa matriz elétrica e exigem o fim do programa nuclear brasileiro, com reconhecimento público dos direitos dos atingidos, direta e indiretamente, pela contaminação radioativa, com indenização e assistência integral à saúde das vítimas.

Contra a exploração de urânio, usina atômica e energia nuclear!
Pela ERRADICAÇÃO DE TODO TIPO DE ARMA NO MUNDO!

1º de Dezembro de 2020

Articulação Antinuclear Brasileira (Br)

Articulação das Comunidades Quilombolas de Mirandiba (Pe)

Articulação Sertão Antinuclear (Pe)

Articulação Antinuclear do Ceará (Ce)

Articulação Nacional das Pescadoras – ANP

Associação da Memória do Patrimônio Material (Caetité-Ba)

Associação Sócio Cultural e Ambiental Fé e Vida (Cáceres-MT)

Associação de Favelas de São José dos Campos (SP)

Associação Vida Brasil (Ba)

Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais – Abong (BA/SE)

Aldeia Serrote dos Campos – Pankará (Itacuruba, Pe)

Aldeia Tuxá Campos – Tuxá (Itacuruba, Pe)

Cáritas Diocesana de Caetité (Ba)

Centro Dom José Brandão de Castro (Se)

Coalizão por um Brasil Livre de Usinas Nucleares (Br)

Comissão Pastoral da Terra / Nacional (Br)

Comissão Pastoral da Terra – Equipe Sulsudoeste da Bahia

Comitê de Energia Renovável do Semiárido-CERSA (Pb)

Comitê Popular do Rio Paraguai Pantanal (Cáceres-MT)

Conexão Virtual Antinuclear (Br)

Coletivo Mulheres Negras Mãe Terra de Angra dos Reis (RJ)

Coletivo Cidade Verde (BSB)

Comissão de Juventude Indígena de Pernambuco

Conselho Indigenista Missionário – Cimi / Regional Nordeste

Conselho Pastoral dos Pescadores – CPP Nacional

Coordenadoria Ecumênica de Serviços (Cese)

Convergência pelo Clima (Ba)

Elo Ligação e Organização (Salvador-Ba)

Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional – FASE Nacional

Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental (DF)

Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental / Núcleo Caetité (Ba)

Frente por uma Nova Política Energética (Br)

GERMEN-Grupo de Defesa e Promoção Socioambiental (Ba)

Greenpeace Brasil

Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente da Universidade Federal do Maranhão (MA).

Grupo Ambientalista da Bahia – Gambá (Ba)

Ylê-Oca Casa das Tradições Afro-indigenas (Pe)

Instituto Dom Alberto Guimarães Resende (Caetité-Ba)

Instituto Búzios (Ba)

Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul – PACS

Instituto Mãos da Terra – IMATERRA (Simoes Filho-Ba)

Instituto Augusto Carneiro (RS)

Jubileu Sul Brasil (Br)

Movimento Paulo Jackson – Ética, Justiça, Cidadania (Ba)

Movimento pela Soberania Popular na Mineração – MAM (Br)

Movimento Negro Unificado Seção-Pernambuco

Núcleo Ecologias, Epistemologias e Promoção Emancipatória da Saúde – Neepes/Fiocruz (RJ)

Rede Brasileira de Justiça Ambiental (Br)

Rede pela Transição Agroecológica das Cidades (Pe)

Sociedade Angrense de Proteção Ecológica – Sapê (Angra dos Reis-RJ)

Sistema Agroflorestal Experimental SAFe-UFPE (Pe)

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