Um grupo de 30 jornalistas profissionais de Camaçari divulgou, neste sábado (5), uma carta aberta ao secretário da Saúde do município, Elias Natan, solicitando o início imediato da vacinação dos profissionais de imprensa. Os profissionais ainda sugerem a criação de um cadastro para garantir transparência e segurança ao processo.
A Secretaria de Saúde do município de Camaçari segue a recomendação do Ministério Público da Bahia – MP/BA descumprindo a determinação da Comissão Intergestores Bipartite (CIB) que aprovou na terça (18) a inclusão de jornalistas e radialistas, que estão em trabalho externo, em redação e estúdios, como prioridades do plano de imunização; além de liminar do Tribunal de Justiça da Bahia – TJ/BA que reprova a ação do MP/BA.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Jornalistas da Bahia – Sinjorba, Moacy Neves, “a recomendação do MPE à Prefeitura de Camaçari para desrespeitar a decisão do Tribunal de Justiça da Bahia é inadmissível em um estado democrático de direito. É a primeira vez que eu vejo uma situação como essa, um procurador de justiça recomendar a um prefeito que ele não respeite uma decisão judicial”, afirmou.
Confira a carta na íntegra:
Caro secretário da Saúde, Elias Natan.
Nós, jornalistas de Camaçari, convidamos vossa senhoria a uma reflexão sobre o papel e a vulnerabilidade da imprensa frente à crise sanitária que acomete nosso país. Mais do que isso, convidamos-lhe a buscar entender, junto conosco, como podemos ser essenciais para levar a informação ao cidadão e servir à sociedade, mas não sermos igualmente reconhecidos como essenciais no processo de vacinação, para garantir maior segurança no exercício da nossa missão social.
“Não queremos essencialidade pra morrer”. Essa frase do presidente do Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba), Moacy Neves, soou como a libertação para o grito que estava preso na garganta de todo trabalhador de comunicação que sai de casa todos os dias para levar informação séria e de qualidade para a população, para combater fake news e evitar o caos que a desinformação provoca.
Os profissionais de imprensa estão morrendo, senhor secretário. Morrendo por estarem na linha de frente no combate à pandemia. Talvez o senhor não saiba, mas 222 comunicadores perderam a luta para a Covid-19 no Brasil. Outras centenas adoeceram. Na Bahia, somamos 26 jornalistas e radialistas mortos, vítimas do coronavírus. Dois deles morreram há uma semana. Em Camaçari, a vida do colega e auxiliar da TV Câmara, Roberto Lomanto, também foi ceifada pela Covid-19. Quantos mais precisam perder a vida no trabalho por falta do bom senso de alguns?
A Comissão Intergestores Bipartite (CIB) corrigiu o erro cometido pelo governo federal, que, ironicamente, considera a classe essencial para estar na linha de frente da pandemia, e, no entanto, a renega na hora de reconhecer a essencialidade na prioridade da vacinação. Logo depois, o Tribunal de Justiça do Estado da Bahia (TJ-BA) reafirmou a decisão da CIB, reforçando o direito dos profissionais de imprensa de serem vacinados. Descumprir as determinações da CIB e do TJ-BA configura-se em grave erro, que acreditamos não ser prudente cometer, em hipótese nenhuma.
Mais de 50 cidades na Bahia já vacinaram profissionais de imprensa, incluindo Salvador, Feira de Santana, Lauro de Freitas, Dias d’Ávila, Alagoinhas, Senhor do Bonfim, Bom Jesus da Lapa, Luiz Eduardo Magalhães e Serrinha. Tantas outras deram a largada, a exemplo de Vitória da Conquista. Acertadamente, esses municípios seguem a determinação da CIB, organização que tem autonomia para tomar decisões sobre a política de vacinação no Estado. É inadmissível que Camaçari, com a relevância que possui, fique de fora desse movimento de restauração do direito da categoria.
É por isso que viemos, por meio desta carta aberta, convidá-lo a refletir, abrir os olhos e enxergar a relevância da imprensa e o papel que temos desempenhado nesse momento tão crítico para toda a sociedade. Como profissionais de comunicação, estamos onde a notícia está, e isso inclui as portas de emergência de hospitais, delegacias, cemitérios e, sim, as redações e estúdios, a base para onde retornamos após a apuração das matérias, expondo, igualmente, os nossos colegas de trabalho que ficam na retaguarda.
Que fique claro, senhor secretário, não queremos privilégios, queremos respeito e a manutenção do nosso direito.
Por isso, solicitamos o início imediato da vacinação contra Covid-19 dos profissionais de imprensa de Camaçari.
Propomos ainda, assim como foi feito em outras cidades, que seja criado um cadastro dos profissionais de imprensa de forma a garantir mais transparência e segurança ao processo.
Acredite, o número de doses destinadas à categoria será pequeno, especialmente, frente ao impacto sanitário que a imunização trará com a diminuição do risco de contaminação a que os profissionais são expostos diariamente.
Coletivo de jornalistas profissionais de Camaçari
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