Vinte e dois ministros, que estarão no próximo governo, já foram anunciados pelo futuro presidente do Brasil Jair Bolsonaro. O número ultrapassa o prometido na campanha, que seria de “no máximo 15 ministérios”.
Para um candidato que foi eleito erguendo bandeira contra a corrupção, chama atenção que tantos indicados tenham pendências com a Justiça. Ao menos nove dos futuros ministros são investigados ou réus em ações judiciais. A lista vai do caixa 2 confesso por Onyx Lorenzoni (DEM) ao calote no INSS do deputado Marcelo Álvaro (PSL), futuro ministro do Turismo.
Confira:
Tereza Cristina (Agricultura)
Investigada por suposto favorecimento à JBS quando era secretária do agronegócio no Mato Grosso do Sul. Delações de executivos dão conta de que, ela ofereceu benefícios fiscais à empresa no estado. Nessa época, Tereza mantinha parceria agropecuária com a JBS. Ela nega as acusações.
A futura ministra e a mãe foram processadas pela JBS por calote no arrendamento de um terreno. O caso corre em segredo de Justiça.
A deputada é líder da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA) e dona de 1100 hectares de terra no Mato Grosso do Sul. O patrimônio dela cresceu quase 500% desde as eleições de 2014, conforme declarado ao TSE.
Luiz Henrique Mandetta (Saúde)
É investigado por suposta fraude em licitação, caixa 2 e tráfico de influência. O Ministério Público Estadual apura irregularidades em contratos da implantação de um sistema informatizado na prefeitura de Campo Grande (MS). Mandetta era secretário de Saúde na época.
Ricardo Salles (Meio Ambiente)
É réu por improbidade administrativa, sob a acusação de ocultar mudança nos mapas de zoneamento ambiental do Rio Tietê, na época em que foi secretário particular da gestão Alckmin no governo de São Paulo. A justiça aplicou uma multa de 50 milhões de reais.
Também responde a uma acusação de danos ao erário público por ter ordenado a retirada de um busto do guerrilheiro Carlos Lamarca do parque estadual do Rio Turvo, na cidade de Cajati.
Mais recentemente, a Procuradoria Regional Eleitoral o processou por abuso de poder econômico nas eleições.
Onyx Lorenzoni (Casa Civil)
Conhecido pelo discurso linha-dura contra a corrupção, Lorenzoni admitiu ter recebido caixa 2 da JBS. Ele reconhece ter recebido 100 mil reais para a campanha de deputado em 2014. Os executivos da empresa dizem ter repassado o dobro. Independentemente, para muitos, o importante é que Sergio Moro já o perdoou.
Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos)
A ONG Atini, que a futura ministra ajudou a fundar, é alvo de duas investigações do Ministério Público por discriminação contra os povos indígenas. Na mais antiga delas, de 2014, os procuradores exigiram o retorno à aldeia de uma adolescente indígena que, segundo o MP, foi entregue a moradores da cidade de Volta Redonda por membros da Atini e de uma outra ONG missionária, a Jocum (Jovens com Uma Missão).
Em 2015, foi movido um processo de danos morais coletivos contra essas mesmas entidades pela execução de um documentário. No filme, crianças e adultos Karitiana foram coagidos a dramatizar o infanticídio – mas a prática inexiste e é reprimida pela tribo. O material teve a exibição proibida e os procuradores pedem indenização de 1 milhão de reais.
General Heleno (Segurança Institucional)
O militar foi condenado pelo TCU, em 2013, por assinar contratos irregulares no valor de R$ 22 milhões de reais. Uma investigação constatou problemas nos acordos – sem licitação – com duas empresas de TI para realização do V Jogos Militares no Rio de Janeiro. Para o tribunal, não ficou clara a necessidade de investimentos tão vultosos em um setor de mero apoio à realização de um evento esportivo.
Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia)
Depois de passar sete anos treinando com a Nasa, o astronauta-ministro rompeu a atmosfera em uma nave russa cuja ‘carona’ foi paga pelo governo do PT.
Em 2006, o Ministério Público Militar passou a investigá-lo por envolvimento em atividades comerciais – vedado pelo código militar ao oficiais na ativa. Estava em jogo a relação com a Portally, empresa de palestras fundada pela assessora dele. Embora tenha negado tudo na época, ele assumiu sociedade majoritária da empresa assim que o processo caducou. O caso foi revelado em primeira mão pelo site The Intercept Brasil.
Além dos livros, travesseiros, chaveiro, camisetas e outras bugingangas, ele fatura com a empreitada por meio de outras duas empresas: a Fundação Astronauta Marcos Pontes e uma agência de turismo que oferece até pacotes de viagens ao espaço.
Paulo Guedes (Economia)
O superministro de Bolsonaro é alvo da Operação Greenfield por suspeitas de gestão fraudulenta dos fundos de pensão de empresas estatais. O Ministério Público diz que Guedes auferiu comissões exageradas na administração desses investimentos.
Em 2007, o CVM penalizou um fundo gerido por ele por negociar papéis com informações privilegiadas. Essa prática é chamada de ‘insider trading’ e considerada crime. Consta no processo que Guedes lucrou 592 mil reais com a transação.
Marcelo Álvaro Antônio (Turismo)
Antônio, cujo nome verdadeiro é Marcelo Henrique Teixeira Dias, consta como sócio da Voicelider, empresa com dívida ativa de 59,9 mil reais no INSS. Curiosamente, o número no CNPJ está errado na declaração que ele prestou ao TSE. O Banco do Brasil também cobra dívidas da empresa na Justiça.
Antônio e familiares constam como réus em duas ações de usucapião que tramitam na justiça mineira. Há ainda uma penal de 2003, sob a qual ele e o irmão respondem pela venda de lotes que não os pertenciam e não estavam autorizados pela prefeitura. O julgamento está marcado para o dia 5 de fevereiro.
Com informações de Carta Capital
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