Mesmo com tratamento consolidado, a tuberculose ainda é considerada problema de saúde pública. Segundo dados do Ministério da Saúde (DataSUS), a Bahia é o quinto estado com maior número de pessoas com tuberculose e, no Nordeste, ocupa a segunda posição. Além dos sintomas da doença, os pacientes muitas vezes encaram também preconceito e estigmas. No Dia Mundial de Combate à Tuberculose, 24 de março, o alerta da pneumologista do Hospital Cárdio Pulmonar, Eliana Matos é para desfazer mitos, crenças e exageros que afetam os pacientes.
“O preconceito em relação à doença se dá por conta da transmissibilidade e falta de tratamento no passado. Isso ficou gravado na consciência coletiva”, afirma a médica. “A associação da tuberculose com a pobreza leva muitos pacientes a esconderem o diagnóstico. As pessoas se autodiscriminam, o que implica, muitas vezes, na baixa adesão ao tratamento ou no abandono, pois não recebem a correta orientação de como lidar com a doença no momento do diagnóstico”, complementa Eliana Matos.
Segundo a pneumologista, a relação entre a tuberculose e a pobreza pode ser entendida pela alimentação desfavorável e moradia precária e em conglomerados, o que propicia a transmissão da bactéria causadora da doença (Mycobacterium tuberculosis, o bacilo de Koch). “Aliados ao baixo nível educacional, essas condições facilitam a transmissão. A pessoa mais bem informada é capaz de entender que os sintomas necessitam de investigação e que não se pode negligenciar o tratamento”, explica.
Incidência
No século XIX, a doença ficou conhecida como o “mal do século”. Foi a causa da morte de intelectuais, boêmios e poetas, como o baiano Castro Alves, que morreu em 1871, aos 24 anos. Hoje, como diz a especialista, as pessoas ainda associam a doença à tosse e emagrecimento. “Esse é outro estigma, pois o paciente tende a ganhar peso após o segundo mês do tratamento. A tosse é o sintoma mais frequente e que desaparece entre quatro e cinco semanas em grande parte dos casos”, pontua.
A terapêutica para a tuberculose tem duração de seis meses. No entanto, duas semanas após o início da medicação o paciente sai da fase de transmissibilidade. “A gripe é muito mais transmissível do que a tuberculose, devido às características virais. Não podemos minimizar o risco, mas precisamos entender melhor para reduzir o preconceito”, orienta a pneumologista.
Posicionamento da Bahia
Em 2018, foram registrados 5.496 casos novos da doença na Bahia, com 408 óbitos por tuberculose. Salvador concentra cerca de 40% do total dos casos notificados no estado, com 2.280 novas ocorrências e 120 óbitos em 2017 (dados disponíveis no DataSUS, Ministério da Saúde).
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