As contundentes críticas tomaram conta do país na quarta-feira (25) após pronunciamento do Presidente Jair Bolsonaro em rede nacional, vistas como indispensáveis, por serem, afinal de contas, contestáveis determinações vindas de um chefe de estado da nação, o líder maior.
É inegável que o presidente é um fenômeno da nossa história recente, haja vista que tem uma significativa parcela da sociedade brasileira como seus verdadeiros e fiéis seguidores, conscientes ou não.
Portanto, as palavras de um líder soam como um mandamento, como algo que deve ser cumprido, na maior das vezes sem questionamentos, sobretudo num momento como o que ora vivenciamos, cabendo-nos apenas cumprir orientações, somando-se, pelos temores da ocasião, muitos de seus críticos e não eleitores.
Sem dúvidas, deve-se mais que evidenciar o olhar com preocupação para o impacto da pandemia do Novo Coronavírus na economia brasileira, já demonstrada em negativos cenários já postos para o PIB deste ano, o que será certamente também a realidade mundo afora.
Mas especialmente devemos nos preocupar com a devastação a que serão acometidos, sobretudo, os pequenos e médios negócios, não bastasse vivenciarem uma crise que se arrasta há alguns anos, como também os trabalhadores autônomos, que nos últimos dias certamente não estão dispondo do mínimo para sobrevivência.
Numa situação ainda mais grave, estão os aproximadamente 13 milhões de desempregados brasileiros, número que lamentavelmente tende a crescer, muitos dos quais privados de receberem a renda mínima do Programa Bolsa Família, devido aos cortes determinados pelo Governo Federal, que têm afetado de maneira mais assertiva os nordestinos, por razões não tão bem compreensíveis objetivamente, num contrassenso comparativo a reduzidas supressões feitas no programa em regiões de menores índices de desigualdade social.
Para mitigar esta esperada criticidade econômica e social, é dever do estado brasileiro prover os setores empresarial e da sociedade, priorizando aqueles mais fragilizados, com medidas urgentes que dispunham de condições mínimas de sobrevivência e minoração de elevado sofrimento trazido por esta grave crise, como já anunciado por governos estaduais, através, por exemplo, de isenção temporária de contas de consumo, embora neste cenário detenha a União inegável maior capacidade de propor e efetivar as necessárias soluções, seja por meio de parte de suas reservas internacionais, ou mesmo conciliando com outros Poderes constituídos suas parcelas de contribuição.
Mas o foco é o momento, e vamos então à análise dos recentes pronunciamentos presidencial. Em rede nacional, na noite de quarta-feira (25/03), o Senhor Presidente lançou a seguinte determinação: devemos sim voltar ao normal, como um mandamento que marca posição logo no início de sua fala. Em seguida, teceu crítica a governadores e prefeitos que têm empenhado intensos esforços para a prevenção e combate ao Novo Coronavírus e pediu para abandonarem o conceito de terra arrasada, a proibição de transportes, o fechamento de comércio e o confinamento em massa.
Para reforçar a ideia de confinamento apenas do grupo de risco acima dos 60 anos, contrariando as orientações firmadas pelas autoridades médicas ao redor do mundo, ratificadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e até mesmo por seu próprio Ministro da Saúde, o médico Luiz Henrique Mandetta, o Presidente Bolsonaro propõe a reabertura das escolas, sem combinar com os pais de crianças e adolescentes temerosos até mesmo de deixarem os seus rebentos chegarem a portas e janelas de casa, quiçá por o pé fora dela.
Visando apaziguar as apreensões que toma conta não só do Brasil, como de quase toda uma comunidade global, o Presidente afirma que 90% de nós não teremos qualquer manifestação caso se contamine pela Covid19, apresentando um número, sabe-se lá com que base, que se real não mereceríamos de fato estar nessa histeria generalizada.
Como demonstração de um ser inatingível pelo vírus que a cada dia tem levado milhares a óbito, afirma o Presidente que nada acontecerá a pessoas com histórico de atleta, usando-o como exemplo, sendo somente acometidos a uma gripezinha ou um resfriadinho. Na contramão dessa lógica presidencial, dentre relatos de atletas que contraíram o vírus, o nadador sul-africano Cameron van der Burgh, de 31 anos, campeão olímpico nos 100m peito nas Olimpíadas de 2012, usou suas redes sociais para dizer a seguinte frase: “Lido com o Covid-19 há 14 dias. É de longe o pior vírus que alguma vez tive de enfrentar, apesar de ser uma pessoa de boa saúde, com uns pulmões fortes (não fumo/faço desporto), que tem um estilo de vida saudável e ser jovem”.
Ainda neste pronunciamento, surge o prenúncio de solução medicamentosa para a Covid-19, a Cloroquina, inicialmente propagada pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e reforçada pelo Presidente brasileiro, mesmo que ainda em fase de pesquisa. Trata-se de fármaco prescrito para o tratamento de doenças como a malária, lúpus e a artrite reumatoide.
Relembrando que a fala de um líder tem força, em especial pronunciada em rede nacional numa crise humanitária de tamanha gravidade, inúmeros brasileiros, como também americanos, foram às farmácias em busca de Cloroquina, para garantir a cura, se infectados, o que acarretou até mesmo na falta do medicamento para aqueles que o utilizam no tratamento contínuo das enfermidades já mencionadas. Vítimas dessa euforia, um casal de americanos do Estado do Arizona, infectados pela Covid-19, se automedicou com Cloroquina, o que infelizmente acarretou na morte de um deles, ficando o outro em estado grave, conforme anunciou a imprensa internacional no dia de hoje.
Fica então em nossas mãos a decisão de atender aos anseios do Presidente Jair Messias Bolsonaro para voltarmos à normalidade, cujo coro foi reforçado nas redes sociais por empresários do rol de seus apoiadores, sem o temor e histeria de ir às ruas e levar os nossos filhos para a escola, ou nos mantermos na rotina de confinamento orientada por toda renomada classe especializada e cumprida mundo afora, ainda mesmo nos EUA, inegável base de suas ações presidenciais.
Eis a decisão.
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