ACM Neto é favoritaço, mas…

Em janeiro de 2018, o vice-governador João Leão tinha convicção que ACM Neto não abandonaria a prefeitura de Salvador para ser candidato a governador da Bahia naquele ano. “Qual é o problema de Neto?”, questionou ele a um jornalista. “Ele tem uma pessoa, uma fortaleza do lado dele, que é ele”, respondeu.

Para o vice-governador, a base governista era forte porque tinha três fortalezas: ele, o PT e Otto Alencar. Quatro anos depois, ACM Neto consegue retirar uma das fortificações dos adversários – João Leão – e igualar a força política. O ex-prefeito soteropolitano, que já era um candidato competitivo, pôs um pé no Palácio de Ondina, com a vinda do PP para seu grupo político.

Ademais, há, pelo menos, cinco motivos que tornam ACM Neto favorito para vencer a eleição: 1) enorme tempo de TV; 2) gigantesco fundo eleitoral do União Brasil; 3) o arsenal digital; 4) a juventude com a representação do novo em contraponto ao desgaste natural dos oponentes; 5) e a bem avaliada gestão em Salvador, que lhe serve como currículo eleitoral.

Só que procurando bem todo candidato tem pereba, e não é diferente com Neto. O ex-prefeito não tem uma âncora nacional, como todo mundo sabe. Além do mais, disputará contra uma fortíssima máquina estadual, gerida pelo governador Rui Costa, que sabe usá-la como poucos atores políticos.

O governador errou, do ponto de vista de grupo, ao não preparar um sucessor. A meu ver, Rui não criou um nome para sucedê-lo porque não quis, pois, sempre almejou ser senador da República. Sabia ele que o Partido dos Trabalhadores só podia ter uma vaga na majoritária. Se então preparasse um substituto do PT, ficaria fora da chapa. Se formasse um nome de outro partido, seria visto como traidor pela militância petista.

O resultado é que o PT entra na corrida eleitoral muito atrás do seu principal adversário. O primeiro obstáculo que Jerônimo Rodrigues precisará superar é retirar o clima de “já perdeu” da sua campanha. As sondagens de opinião da semana passada o ajudaram neste sentido. O segundo óbice é se tornar conhecido. Segundo a pesquisa da Genial/Quaest, 82% dos eleitores baianos nunca ouviram falar o nome do secretário de Educação. Para efeito de comparação, 88% sabem que é ACM Neto. A questão central é: haverá tempo suficiente para o candidato petista ser conhecido?

“O atual governador também era desconhecido em 2014 e venceu”, argumenta o leitor. É verdade, mas Rui foi preparado com muita antecedência pelo então governador Jaques Wagner. Além disso, naquela eleição, a campanha durou 90 dias. Agora, Jerônimo terá que correr para colocar o seu nome na boca do eleitor em 45 dias.

“Ah, mas no pleito de 2018 também eram 45 dias, Fernando Haddad era desconhecido do eleitorado baiano e chegou a ter 72% dos votos no estado”, retruca o leitor. Deveras. Wagner até precisou ensinar o nome de Haddad. “Felicidade, solidariedade, então, todas as vezes que a gente falar essas palavras no finalzinho, aparece Haddad, tá certo?”, lecionou o então candidato a senador. Só que a exposição pública de um postulante à Presidência é muito maior do que quem compete ao governo da Bahia.

De acordo com a Genial/Quaest, 55% dos nossos conterrâneos se informam pelas emissoras de televisão, que não costumam ter grandes coberturas das eleições estaduais. Portanto, corre o risco de Jerônimo Rodrigues entrar e sair da disputa sem parte do eleitor nem saber quem é ele.

O secretário, no entanto, tem a vantagem de ter dois grandes cabos eleitorais: o governador e Lula. Rui mostrou, nos últimos dias, que não entregará o governo de bandeja para ACM Neto. Já o ex-presidente é querido pelos baianos, e tem o potencial de mudar até 48% dos votos no estado. Só que a transferência de votos nunca foi como dois mais dois são quatro.

Cinco dias antes de morrer fatidicamente, Luís Eduardo Magalhães – tio de ACM Neto – disse à Folha ter certeza de que venceria o governo da Bahia em 1998. “Não gosto de ser imodesto. Mas essa nem Mãe Menininha me toma”, afirmou ele. Quis o destino que não acontecesse, mas, se os ventos da política não mudarem até outubro, dificilmente não haverá, 30 anos depois, o retorno da família Magalhães ao poder da Bahia

Rodrigo Daniel Silva é repórter da Tribuna e escreve neste espaço quinzenalmente às terças

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