A frase título pode chocar, mas a ironia cabe muito ao nosso momento, onde registramos há alguns dias média diária de mil mortos pela COVID-19 e mesmo assim vemos diariamente cidades e mais cidades flexibilizando as medidas de isolamento social, provocando abertura de comércios, shoppings e até bares.
Ora, qual país do mundo começou esta flexibilização com tão elevadas taxas de transmissão, novos casos e números de mortos? Adaptando a velha máxima, a verdade é que se pensarmos no absurdo, o Brasil terá certamente precedentes.
Com quase 90 mil mortos, e com média de mil mortos por dia, podemos afirmar que em 10 dias, teremos 100 mil mortos. E com as flexibilizações, em mais 10 dias serão mais 10 mil? Honestamente acredito que não! Será certamente muito mais.
A verdade é que nada disso comove grande parte da nossa população, de que tão acostumada com registros diários de mortos no transito, crimes passionais, balas perdidas, erros médicos, morte de pacientes por falta de leitos, latrocínios e guerras entre facções que mil mortos diários não são suficientes para fazer essa parcela a ficar em casa e adotar medidas de isolamento. Pelo contrário! Reclamam que não estão trabalhando, reclamam da falta de uma praia, de um shopping ou de escolas para seus filhos irem.
O mais triste é que esta parcela pode ser dividida por aqueles que realmente precisam trabalhar ou manter seus pequenos negócios abertos e são vítimas de uma falta de política nacional efetiva de socorro a estas pessoas e empresas e que infelizmente não conseguem enxergar que falta a eles a presença tão fundamental do estado e a segunda por aqueles que se sentem senhores dos fatos e que sempre foram contra o isolamento social, o fechamento do comércio e defendem o estado mínimo, afinal como dizem “deixem o povo trabalhar que não precisa de governo” ou “só morrem velhos. Bata isola-los”. Coitados!
A verdade é que no país que nunca se mobilizou para reduzir suas desigualdades e sempre aceitou anos e mais anos de incontáveis assassinatos, violência pública, mortes por doenças totalmente evitáveis não iria nunca efetivamente, aderir há um grande isolamento social capaz de reduzir o número de contágio e de mortes. A morte não nos assusta mais! Perdemos a empatia.
E com isso, no país do jeitinho, vamos quebrando o isolamento, vamos adaptando as regras e flexibilizando aos poucos mesmo no pico estabilizado sem sinal de queda num horizonte próximo, vamos quebrando a quarentena fazendo pequenos aniversários em casa com dois ou três vizinhos não é mesmo? O que é que tem? E de loja em loja, festinha em festinha, corrida e corrida na orla, vamos enterrando mil pessoas por dia.
Triste Brasil.
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