Preparem-se: Bolsonaro quer ir à guerra!

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As últimas 24 horas foram intensas no país. O que começou como uma segunda-feira tranquila, onde se desenhava que a solução da saída do ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo, atenderia a um clamor nacional e internacional, dando ao presidente uma sobrevida nas críticas relacionadas à gestão da pandemia e serviria de aceno, junto com a última troca do ministro da Saúde, de uma mudança na gestão e enfrentamento ao vírus.

Pois bem. Como temos um ser humano ávido pelo poder, pelo centralismo e pela ideia deformada de que “quem manda é o presidente”, Bolsonaro foi às compras: decidiu voltar a apostar no caos e no confronto para fazer a cortina de fumaça que ele gosta, como atacar a democracia, acuar as instituições e levantar temores de rupturas, tudo isso sempre usado para encobrir, de um tudo, um pouco no seu governo.

A repentina reforma ministerial pegou a todos de surpresa, principalmente pela extensão e pelas suas consequências: a troca do ministro da defesa pegou as forças armadas desprevenidas, levando a entrega dos cargos dos três comandantes das forças armadas, algo inédito desde 1977, quando estávamos no fim do regime militar e começando o processo de “abertura gradual”, como diziam.

Bolsonaro há dias vem flertando com tentativas de medidas antidemocráticas, ameaçando a ordem institucional quando, por exemplo, ajudou a crescer rumores de decretação de Estado de sitio ou defesa, e, no palanque de sua claque, na porta do Palácio da Alvorada, disse que “seu exército” não iria deixar continuar a questão dos decretos de isolamento social feito pelos governadores, estes desesperados por fazer algo que salve vidas. Rumores apontam, inclusive, que uma recusa de apoio público a esses propósitos, levaram a queda do Ministro da Defesa.

Bolsonaro age como aquele menino dono da bola, que não sabe jogar bola e que se acha o craque e se não for escalado, quer tomar a bola e acabar o jogo. Bolsonaro tem resquícios de autoritarismo e todos os últimos acontecimentos são o desembocar de uma raiva contida daquele que acha que manda: provar que não está sendo acuado por militares, por governadores, pelo mercado financeiro e pelo centrão.

Na mente de Bolsonaro, seu poder foi posto à prova, quando teve que demitir o ministro da Saúde, quando teve que criar o tal Comitê de Crise do Coronavírus, quando se viu obrigado a usar máscara após a anulação das condenações de Lula, ouvir que o congresso iria usar remédios amargos caso a gestão continuasse desastrosa da pandemia, quando perdeu a ação contra os governadores no Supremo e, por fim, a troca do ministro Ernesto Araújo, que citei mais acima. Foi demais para uma mente que carece de autoafirmação de poder o tempo inteiro e que enxerga em todos os lados, teorias conspiratórias e inimigos.

A verdade é que estamos andando a passos largos para uma ruptura institucional, patrocinada pelos rompantes deste que ocupa a presidência e que, usa do medo e da tática do quanto pior melhor para instaurar um ambiente de anarquia militar, descontentamento social pela pandemia e, alimentando-se de uma tragédia, joga para alimentar suas forças nos estados, representadas pelas forças policiais estaduais. É nesta última que ele aposta!

– Como assim ele aposta nas forças policiais? Todos sabemos que mais da metade dos policiais militares simpatizam com ideais do bolsonarismo e, alguns deles, tem também uma veia autoritária.

Esta importante e necessária Instituição, que desempenha sua tarefa com coragem e em condições dificílimas em todo o país, se tornou um terreno fértil de propagação desses ideais, que usando da tática de uma valorização da causa policial, alimentam a anarquia militar, usando a morte de um PM na Bahia como mote político, insuflando a polícia a se rebelar contra o próprio governador do Estado e, por fim, usa um dos líderes no Congresso para encaminhar um pedido de urgência para aprovação de um projeto que visa estender a Situação de Mobilização Nacional, usado para tempos de guerra, para a questão da pandemia. Se você que lê não sabe, o Projeto de Lei visaria estender o Estado de Mobilização Nacional, que é previsto na Constituição para casos de agressão estrangeira ao nosso território, para a pandemia. Na prática, as polícias militares dos Estados deixariam de responder aos governadores e passariam a responder ao presidente, numa clara manobra para fazer com que as forças dos decretos fossem descumpridas, já que nesta situação os governadores não teriam como usar a repressão e assim, as forças policiais se tornariam uma força bolsonarista.

Felizmente, no fechamento deste artigo, soube que o colégio de líderes do Congresso rejeitou a urgência do projeto proposto pelo deputado do PSL, Major Vitor Hugo.

A nossa democracia, que vive tendo que provar diariamente sua força, está sob nítido ataque, onde um grupo de autoproclamados intelectuais, respaldados pelas mais mirabolantes teorias conspiratórias, negacionistas da ciência e da vida, ocupam mais altos postos de nossa República e tentam, no alto de seus devaneios, provar ter poder, provar estarem certos, provar que mandam, que a história está errada, que defender a natureza está errado, encobrir as denúncias aos filhos e, segurar desesperadamente, sua base ideológica de 25% do eleitorado, e para isso, eles estão dispostos a tudo, vide nossas 300 mil vidas perdidas até agora. Se tantas mortes não os freou e os fizeram mudar, não serão seus escassos ideais democráticos que o fará!

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